tag:blogger.com,1999:blog-29749720897682169702024-03-13T01:01:01.391-03:00Central de CrônicasJulio Salleshttp://www.blogger.com/profile/08660509636218414858noreply@blogger.comBlogger7125tag:blogger.com,1999:blog-2974972089768216970.post-11578020682284880802011-05-09T02:59:00.002-03:002011-05-09T14:27:15.965-03:00Meu Ideal Seria Escrever...<div style="text-align: right;"><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>de Rubem Braga</b></span></span></div><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça que está doente naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto que chegasse a chorar e dissesse -- "ai meu Deus, que história mais engraçada!". E então a contasse para a cozinheira e telefonasse para duas ou três amigas para contar a história; e todos a quem ela contasse rissem muito e ficassem alegremente espantados de vê-la tão alegre. Ah, que minha história fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente, vivo, em sua vida de moça reclusa, enlutada, doente. Que ela mesma ficasse admirada ouvindo o próprio riso, e depois repetisse para si própria -- "mas essa história é mesmo muito engraçada!".</span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Que um casal que estivesse em casa mal-humorado, o marido bastante aborrecido com a mulher, a mulher bastante irritada com o marido, que esse casal também fosse atingido pela minha história. O marido a leria e começaria a rir, o que aumentaria a irritação da mulher. Mas depois que esta, apesar de sua má vontade, tomasse conhecimento da história, ela também risse muito, e ficassem os dois rindo sem poder olhar um para o outro sem rir mais; e que um, ouvindo aquele riso do outro, se lembrasse do alegre tempo de namoro, e reencontrassem os dois a alegria perdida de estarem juntos.</span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<a name='more'></a>Que nas cadeias, nos hospitais, em todas as salas de espera a minha história chegasse -- e tão fascinante de graça, tão irresistível, tão colorida e tão pura que todos limpassem seu coração com lágrimas de alegria; que o comissário do distrito, depois de ler minha história, mandasse soltar aqueles bêbados e também aqueles pobres mulheres colhidas na calçada e lhes dissesse -- "por favor, se comportem, que diabo! Eu não gosto de prender ninguém!" . E que assim todos tratassem melhor seus empregados, seus dependentes e seus semelhantes em alegre e espontânea homenagem à minha história.<br />
<span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">E que ela aos poucos se espalhasse pelo mundo e fosse contada de mil maneiras, e fosse atribuída a um persa, na Nigéria, a um australiano, em Dublin, a um japonês, em Chicago -- mas que em todas as línguas ela guardasse a sua frescura, a sua pureza, o seu encanto surpreendente; e que no fundo de uma aldeia da China, um chinês muito pobre, muito sábio e muito velho dissesse: "Nunca ouvi uma história assim tão engraçada e tão boa em toda a minha vida; valeu a pena ter vivido até hoje para ouvi-la; essa história não pode ter sido inventada por nenhum homem, foi com certeza algum anjo tagarela que a contou aos ouvidos de um santo que dormia, e que ele pensou que já estivesse morto; sim, deve ser uma história do céu que se filtrou por acaso até nosso conhecimento; é divina".</span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">E quando todos me perguntassem -- "mas de onde é que você tirou essa história?" -- eu responderia que ela não é minha, que eu a ouvi por acaso na rua, de um desconhecido que a contava a outro desconhecido, e que por sinal começara a contar assim: "Ontem ouvi um sujeito contar uma história...".</span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">E eu esconderia completamente a humilde verdade: que eu inventei toda a minha história em um só segundo, quando pensei na tristeza daquela moça que está doente, que sempre está doente e sempre está de luto e sozinha naquela pequena casa cinzenta de meu bairro.</span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>***</b></span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px;"><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px; border-collapse: collapse; color: #333333; line-height: 18px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px;"><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px; border-collapse: collapse; color: #333333; line-height: 18px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Quer ver sua crônica, conto, poesia, enfim, qualquer texto de sua autoria publicado por aqui? Mande seu texto para centraldecronicas@hotmail.com .<br />
Saiba mais clicando aqui.<br />
Até logo!</span></span></span>Julio Salleshttp://www.blogger.com/profile/08660509636218414858noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2974972089768216970.post-17907526925762898942010-11-02T17:30:00.008-02:002011-05-09T02:44:10.743-03:00Homem que é Homem<div align="center" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px;"><div style="text-align: right;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>de Luís Fernando Veríssimo</b> </span></div><div style="text-align: right;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><br />
</b></span></div></div><div align="justify" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Homem que é Homem não usa camiseta sem manga, a não ser para jogar basquete. Homem que é Homem não gosta de canapés, de cebolinhas em conserva ou de qualquer outra coisa que leve menos de 30 segundos para mastigar e engolir. Homem que é Homem não come suflê. Homem que é Homem — de agora em diante chamado HQEH — não deixa sua mulher mostrar a bunda para ninguém, nem em baile de carnaval. HQEH não mostra a sua bunda para ninguém. Só no vestiário, para outros homens, e assim mesmo, se olhar por mais de 30 segundos, dá briga.<br />
<br />
HQEH só vai ao cinema ver filme do Franco Zeffirelli quando a mulher insiste muito, e passa todo o tempo tentando ver as horas no escuro. HQEH não gosta de musical, filme com a Jill Clayburgh ou do Ingmar Bergman. Prefere filmes com o Lee Marvin e Charles Bronson. Diz que ator mesmo era o Spencer Tracy, e que dos novos, tirando o Clint Eastwood, é tudo veado.<br />
<br />
HQEH não vai mais a teatro porque também não gosta que mostrem a bunda à sua mulher. Se você quer um HQEH no momento mais baixo de sua vida, precisa vê-lo no balé. Na saída ele diz que até o porteiro é veado e que se enxergar mais alguém de malha justa, mata.<br />
<br />
E o HQEH tem razão. Confesse, você está com ele. Você não quer que pensem que você é um primitivo, um retrógrado e um machista, mas lá no fundo você torce pelo HQEH. Claro, não concorda com tudo o que ele diz. Quando ele conta tudo o que vai fazer com a Feiticeira no dia em que a pegar, você sacode a cabeça e reflete sobre o componente de misoginia patológica inerente à jactância sexual do homem latino. Depois começa a pensar no que faria com a Feiticeira se a pegasse. Existe um HQEH dentro de cada brasileiro, sepultado sob camadas de civilização, de falsa sofisticação, de propaganda feminina e de acomodação. Sim, de acomodação. Quantas vezes, atirado na frente de um aparelho de TV vendo a novela das 8 — uma história invariavelmente de humilhação, renúncia e superação femininas — você não se perguntou o que estava fazendo que não dava um salto, vencia a resistência da família a pontapés e procurava uma reprise do </span><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Manix</span></i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> em outro canal? HQEH só vê futebol na TV. Bebendo cerveja. E nada de cebolinhas em conserva! HQEH arrota e não pede desculpas.</span></div><div align="center" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">*</span></div><div style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Se você não sabe se tem um HQEH dentro de você, faça este teste. Leia esta série de situações. Estude-as, pense, e depois decida como você reagiria em cada situação. A resposta dirá o seu coeficiente de HQEH. Se pensar muito, nem precisa responder: você não é HQEH. HQEH não pensa muito!</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><a name='more'></a></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> <b> Situação 1</b> <br />
Você está num restaurante com nome francês. O cardápio é todo escrito em francês. Só o preço está em reais. Muitos reais. Você pergunta o que significa o nome de um determinado prato ao </span><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">maître</span></i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">. Você tem certeza que o </span><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">maître</span></i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">está se esforçando para não rir da sua pronúncia. O </span><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">maître</span></i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> levará mais tempo para descrever o prato do que você para comê-lo, pois o que vem é uma pasta vagamente marinha em cima de uma torrada do tamanho aproximado de uma moeda de um real, embora custe mais de cem. Você come de um golpe só, pensando no que os operários são obrigados a comer. Com inveja. Sua acompanhante pergunta qual é o gosto e você responde que não deu tempo para saber. 0 prato principal vem trocado. Você tem certeza que pediu um "Boeuf à quelque chose" e o que vem é uma fatia de pato sem qualquer acompanhamento. Só. Bem que você tinha notado o nome: "Canard melancolique". Você a princípio sente pena do pato, pela sua solidão, mas muda de idéia quando tenta cortá-lo. Ele é um duro, pode agüentar. Quando vem a conta, você nota que cobraram pelo pato e pelo "boeuf' que não veio. Você: a) paga assim mesmo para não dar à sua acompanhante a impressão de que se preocupa com coisas vulgares como o dinheiro, ainda mais o brasileiro; b) chama discretamente o </span><i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">maître</span></i><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> e indica o erro, sorrindo para dar a entender que, "Merde, alors", estas coisas acontecem; ou c) vira a mesa, quebra uma garrafa de vinho contra a parede e, segurando o gargalo, grita: "Eu quero o gerente e é melhor ele vir sozinho!<br />
<br />
<b> Situação 2</b><br />
<br />
Você foi convencido pela sua mulher, namorada ou amiga — se bem que HQEH não tem "amigas", quem tem "amigas" é veado — a entrar para um curso de Sensitivação Oriental. Você reluta em vestir a malha preta, mas acaba sucumbindo. O curso é dado por um japonês, provavelmente veado. Todos sentam num círculo em volta do japonês, na posição de lótus. Menos você, que, como está um pouco fora de forma, só pode sentar na posição do arbusto despencado pelo vento.<br />
<br />
Durante 15 minutos todos devem fechar os olhos, juntar as pontas dos dedos e fazer "rom", até que se integrem na Grande Corrente Universal que vem do Tibete, passa pelas cidades sagradas da Índia e do Oriente Médio e, estranhamente, bem em cima do prédio do japonês, antes de voltar para o Oriente. Uma vez atingido este estágio, todos devem virar para a pessoa ao seu lado e estudar seu rosto com as pontas dos dedos. Não se surpreendendo se o japonês chegar por trás e puxar as suas orelhas com força para lembrá-lo da dualidade de todas as coisas. Durante o "rom" você faz força, mas não consegue se integrar na grande corrente universal, embora comece a sentir uma sensação diferente que depois revela-se ser câimbra. Você: a) finge que atingiu a integração para não cortar a onda de ninguém; b) finge que não entendeu bem as instruções, engatinha fazendo "rom" até o lado daquela grande loura e, na hora de tocar o seu rosto, erra o alvo e agarra os seios, recusando-se a soltá-los mesmo que o japonês quase arranque as suas orelhas; c) diz que não sentiu nada, que não vai seguir adiante com aquela bobagem, ainda mais de malha preta, e que é tudo coisa de veado.<br />
<br />
<b> Situação 3</b><br />
<br />
Você está numa daquelas reuniões em que há lugares de sobra para sentar, mas todo mundo senta no chão. Você não quis ser diferente, se atirou num almofadão colorido e tarde demais descobriu que era a dona da casa. Sua mulher ou namorada está tendo uma conversa confidencial, de mãos dadas, com uma moça que é a cara do Charlton Heston, só que de bigode. O jantar é à americana e você não tem mais um joelho para colocar o seu copo de vinho enquanto usa os outros dois para equilibrar o prato e cortar o pedaço de pato, provavelmente o mesmo do restaurante francês, só que algumas semanas mais velho. Aí o cabeleireiro de cabelo mechado ao seu lado oferece:<br />
<br />
— Se quiser usar o meu...<br />
<br />
— O seu...?<br />
<br />
— Joelho.<br />
<br />
— Ah...<br />
<br />
— Ele está desocupado.<br />
<br />
— Mas eu não o conheço.<br />
<br />
— Eu apresento. Este é o meu joelho.<br />
<br />
— Não. Eu digo, você...<br />
<br />
— Eu, hein? Quanta formalidade. Aposto que se eu estivesse oferecendo a perna toda você ia pedir referências. Ti-au.<br />
<br />
Você: a) resolve entrar no espírito da festa e começa a tirar as calças; b) leva seu copo de vinho para um canto e fica, entre divertido e irônico, observando aquele curioso painel humano e organizando um pensamento sobre estas sociedades tropicais, que passam da barbárie para a decadência sem a etapa intermediária da civilização; ou c) pega sua mulher ou namorada e dá o fora, não sem antes derrubar o Charlton Heston com um soco.<br />
<br />
Se você escolheu a resposta a para todas as situações, não é um HQEH. Se você escolheu a resposta b, não é um HQEH. E se você escolheu a resposta c, também não é um HQEH. Um HQEH não responde a testes. Um HQEH acha que teste é coisa de veado. </span></div><div align="center" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">*</span></div><div align="justify" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Este país foi feito por Homens que eram Homens. Os desbravadores do nosso interior bravio não tinham nem jeans, quanto mais do Pierre Cardin. O que seria deste pais se Dom Pedro I tivesse se atrasado no dia 7 em algum cabeleireiro, fazendo massagem facial e cortando o cabelo à navalha? E se tivesse gritado, em vez de "Independência ou Morte", "Independência ou Alternativa Viável, Levando em Consideração Todas as Variáveis!"? Você pode imaginar o Rui Barbosa de sunga de crochê? O José do Patrocínio de colant? 0 Tiradentes de kaftan e brinco numa orelha só? Homens que eram Homens eram os bandeirantes. Como se sabe, antes de partir numa expedição, os bandeirantes subiam num morro em São Paulo e abriam a braguilha. Esperavam até ter uma ereção e depois seguiam na direção que o pau apontasse. Profissão para um HQEH é motorista de caminhão. Daqueles que, depois de comer um mocotó com duas Malzibier, dormem na estrada e, se sentem falta de mulher, ligam o motor e trepam com o radiador. No futebol HQEH é beque central, cabeça-de-área ou centroavante. Meio-de-campo é coisa de veado. Mulher do amigo de Homem que é Homem é homem. HQEH não tem amizade colorida, que é a sacanagem por outros meios. HQEH não tem um relacionamento adulto, de confiança mútua, cada um respeitando a liberdade do outro, numa transa, assim, extraconjugal mas assumida, entende? Que isso é papo de mulher pra dar pra todo mundo. HQEH acha que movimento gay é coisa de veado.<br />
<br />
HQEH nunca vai a vernissage.<br />
<br />
HQEH não está lendo a Marguerite Yourcenar, não leu a Marguerite Yourcenar e não vai ler a Marguerite Yourcenar.<br />
<br />
HQEH diz que não tem preconceito mas que se um dia estivesse numa mesma sala com todas as cantoras da MPB, não desencostaria da parede.<br />
<br />
Coisas que você jamais encontrará em um HQEH: batom neutro para lábios ressequidos, pastilhas para refrescar o hálito, o telefone do Gabeira, entradas para um espetáculo de mímica.<br />
<br />
Coisas que você jamais deve dizer a um HQEH: "Ton sur ton", "Vamos ao balé?", "Prove estas cebolinhas".<br />
<br />
Coisas que você jamais vai ouvir um HQEH dizer: "Assumir", "Amei", "Minha porção mulher", "Acho que o bordeau fica melhor no sofá e a ráfia em cima do puf".<br />
<br />
Não convide para a mesma mesa: um HQEH e o Silvinho.<br />
<br />
HQEH acha que ainda há tempo de salvar o Brasil e já conseguiu a adesão de todos os Homens que são Homens que restam no país para uma campanha de regeneração do macho brasileiro. </span></div><div align="justify" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Os quatro só não têm se reunido muito seguidamente porque pode parecer coisa de veado.</span></div><div align="justify" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #333333; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px; border-collapse: collapse; line-height: 18px;"><b><span class="Apple-style-span" style="color: black;"><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px; border-collapse: separate; font-weight: normal; line-height: normal;"><br />
</span></span></b></span></span></div><div align="justify" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px;"><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px; border-collapse: collapse; color: #333333; line-height: 18px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
*** </span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px; border-collapse: collapse; color: #333333; line-height: 18px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span></div><div align="justify" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px;"><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px; border-collapse: collapse; color: #333333; line-height: 18px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Uma das minhas crônicas preferidas do Veríssimo.</span></span></div><div align="justify" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 7px; -webkit-border-vertical-spacing: 7px;"><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px; border-collapse: collapse; color: #333333; line-height: 18px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
Quer ver sua crônica, conto, poesia, enfim, qualquer texto de sua autoria publicado por aqui? Mande seu texto para centraldecronicas@hotmail.com .<br />
Saiba mais clicando aqui.<br />
Até logo!</span></span></div>Julio Salleshttp://www.blogger.com/profile/08660509636218414858noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2974972089768216970.post-61360404479431353822010-10-31T23:02:00.014-02:002011-05-09T03:02:24.367-03:00Os amantes<div class="post-body entry-content" style="line-height: 1.4; position: relative; width: 660px;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: right;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>de Rubem Braga</b></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Nos dois primeiros dias, sempre que o telefone tocava, um de nós esboçava um movimento, um gesto de quem vai atender. Mas o movimento era cortado no ar. Ficávamos imóveis, ouvindo a campainha bater, silenciar, bater outra vez. Havia um certo susto, como se aquele trinado repetido fosse uma acusação, um gesto agudo nos apontando. Era preciso que ficássemos imóveis, talvez respirando com mais cuidado, até que o aparelho silenciasse.</span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></div></div><div class="post-body entry-content" style="line-height: 1.4; position: relative; width: 660px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Então tínhamos um suspiro de alívio. Havíamos vencido mais uma vez os nossos inimigos. Nossos inimigos eram toda a população da cidade imensa, que transitava lá fora nos veículos dos quais nos chegava apenas um ruído distante de motores, a sinfonia abafada das buzinas, às vezes o ruído do elevador. Sabíamos quando alguém parava o elevador em nosso andar; tínhamos o ouvido apurado, pressentíamos os passos na escada antes que eles se aproximassem. A sala da frente estava sempre de luz apagada. Sentíamos, lá fora, o emissário do inimigo. Esperávamos quietos. Um segundo, dois – e a campainha da porta batia, alto, rascante. Ali, a dois metros, atrás da porta escura, estava respirando e esperando um inimigo. Se abríssemos, ele – fosse quem fosse – nos lançaria um olhar, diria alguma coisa – e então o nosso mundo seria invadido.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><a name='more'></a></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> No segundo dia ainda hesitamos; mas resolvemos deixar que o pão e o leite ficassem lá fora; o jornal era remetido por baixo da porta, mas nenhum de nós o recolhia. Nossas provisões eram pequenas; no terceiro dia já tomávamos café sem açúcar, no quarto a despensa estava praticamente vazia. No apartamento mal iluminado íamos emagrecendo de felicidade. Devíamos estar ficando pálidos, e às vezes, unidos, olhos nos olhos, nos perguntávamos se tudo não era um sonho. O relógio parara, havia apenas aquela tênue claridade que vinha das janelas sempre fechadas. Mais tarde essa luz do dia distante, do dia dos outros, ia se perdendo, e então era apenas uma pequena lâmpada no chão que projetava nossas sombras nas paredes do quarto e vagamente escoava pelo corredor, lançava ainda uma penumbra confusa na sala, onde não íamos mais.<br />
<br />
Pouco falávamos: se o inimigo estivesse escutando às nossas portas, mal ouviria vagos murmúrios; e a nossa felicidade imensa era ponteada de alegrias menores e inocentes, a água forte e grossa do chuveiro, a fartura festiva de toalhas limpas, de lençóis de linho.<br />
<br />
O mundo ia pouco a pouco desistindo de nós; o telefone batia menos e a campainha da porta quase nunca. Ah, nós tínhamos vindo de muito e muito amargor, muita hesitação, longa tortura e remorso; agora a vida era nós dois apenas.<br />
<br />
Sabíamos estar condenados; os inimigos, os outros, o resto da população do mundo nos esperava para lançar olhares, dizer coisas, ferir com maldade ou tristeza o nosso mundo, nosso pequeno mundo que ainda podíamos defender um dia ou dois, nosso mundo trêmulo de felicidade, sonâmbulo, irreal, fechado, e tão louco e tão bobo e tão bom como nunca mais haverá.<br />
<br />
No sexto dia sentimos que tudo conspirava contra nós. Que importa a uma grande cidade que haja um apartamento fechado em alguns de seus milhares edifícios – que importa que lá dentro não haja ninguém, ou que um homem e uma mulher ali estejam, pálidos, se movendo na penumbra como dentro de um sonho?<br />
<br />
Entretanto, a cidade, que durante uns dois ou três dias parecia nos haver esquecido, voltava subitamente a atacar. O telefone tocava, batia dez, quinze vezes, calava-se alguns minutos, voltava a chamar: e assim três, quatro vezes sucessivas.<br />
<br />
Alguém vinha e apertava a campainha; esperava; apertava outra vez; experimentava a maçaneta da porta; batia com os nós dos dedos, cada vez mais forte, como se tivesse certeza de que havia alguém lá dentro. Ficávamos quietos, abraçados, até que o desconhecido se afastasse, voltasse para a rua, para a sua vida, nos deixasse em nossa felicidade que fluía num encantamento constante.<br />
<br />
Eu sentia dentro de mim, doce, essa espécie de saturação boa, como um veneno que tonteia, como se os meus cabelos já tivessem o cheiro de seus cabelos, como se o cheiro de sua pele tivesse entrado na minha. Nosso corpos tinham chegado a um entendimento que era além do amor, eles tendiam a se parecer no mesmo repetido jogo lânguido, e uma vez que, sentado de frente para a janela, por onde filtrava um eco pálido de luz, eu a contemplava tão pura e nua, ela disse: “Meu Deus, seus olhos estão esverdeando”.<br />
<br />
Nossas palavras baixas eram murmuradas pela mesma voz, nossos gestos eram parecidos e integrados, como se o amor fosse um longo ensaio para que um movimento chamasse outro; inconscientemente compúnhamos esse jogo de um ritmo imperceptível como um lento bailado.<br />
</span></div><div class="post-body entry-content" style="line-height: 1.4; position: relative; width: 660px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Mas naquela manhã ela se sentiu tonta, e senti também minha fraqueza; resolvi sair, era preciso dar uma escapada para obter víveres; vesti-me, lentamente, calcei os sapatos como quem faz algo de estranho; que horas seriam?<br />
<br />
Quando cheguei à rua e olhei, com um vago temor, um sol extraordinariamente claro me bateu nos olhos, na cara, desceu pela minha roupa, senti vagamente que aquecia meus sapatos. Fiquei um instante parado, encostado à parede, olhando aquele movimento sem sentido, aquelas pessoas e veículos irreais que se cruzavam; tive uma tonteira, e uma sensação dolorosa no estômago.<br />
<br />
Havia um grande caminhão vendendo uvas, pequenas uvas escuras; comprei cinco quilos, o homem fez um grande embrulho; voltei, carregando aquele embrulho de encontro ao peito, como se fosse a minha salvação.<br />
<br />
E levei dois, três minutos, na sala de janelas absurdamente abertas, diante de um desconhecido, para compreender que o milagre se acabara; alguém viera e batera à porta e ela abrira pensando que fosse eu, e então já havia também o carteiro querendo recibo de uma carta registrada e, quando o telefone bateu, foi preciso atender, e nosso mundo foi invadido, atravessado, desfeito, perdido para sempre – senti que ela me disse isto num instante, num olhar entretanto lento (achei seus olhos muito claros, há muito tempo que não os via assim, em plena luz) um olhar de apelo e de tristeza, onde, entretanto, ainda havia uma inútil, resignada esperança.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="color: #333333; font-family: 'trebuchet ms', verdana, arial, sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px; border-collapse: collapse; line-height: 18px;"><span class="Apple-style-span" style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 0px; -webkit-border-vertical-spacing: 0px; border-collapse: separate; line-height: 22px;"><br />
</span></span></span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="color: #333333; font-family: 'trebuchet ms', verdana, arial, sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px; border-collapse: collapse; line-height: 18px;"> ***<br />
<br />
Quer ver sua crônica, conto, poesia, enfim, qualquer texto de sua autoria publicado por aqui? Mande seu texto para centraldecronicas@hotmail.com .<br />
Saiba mais clicando aqui.<br />
Até logo!</span></span></div>Julio Salleshttp://www.blogger.com/profile/08660509636218414858noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2974972089768216970.post-49449425237418652602010-10-30T19:53:00.005-02:002011-05-09T02:42:15.032-03:00Um dia de merda<span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="-webkit-border-horizontal-spacing: 0px; -webkit-border-vertical-spacing: 0px; font-family: 'Times New Roman'; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: right;"><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Autor desconhecido</b> </span></span></div><div style="-webkit-border-horizontal-spacing: 0px; -webkit-border-vertical-spacing: 0px; font-family: 'Times New Roman'; margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: right;"><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">(Essa crônica é frequentemente divulgada como sendo </span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">de autoria de </span><br />
<span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></span><span class="Apple-style-span" style="font-family: arial, sans-serif; line-height: 19px;"><em style="font-style: normal;"><b>Luís</b></em><b> Fernando </b><em style="font-style: normal;"><b>Veríssimo, </b>mas isso já foi desmentido pelo próprio)</em></span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-family: arial, sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="line-height: 19px;"><br />
</span></span></div></span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Aeroporto Santos Dumont, 15:30. Senti um pequeno mal estar causado por uma cólica intestinal, mas nada que uma urinada ou uma barrigada não aliviasse. Mas, atrasado para chegar ao ônibus que me levaria para o Galeão, de onde partiria o vôo para Miami, resolvi segurar as pontas. Afinal de contas são só uns 15 minutos de busão. “Chegando lá, tenho tempo de sobra para dar aquela mijadinha esperta, tranqüilo”. O avião só sairia às 16:30.</span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Entrando no ônibus, sem sanitários, senti a primeira contração e tomei consciência de que minha gravidez fecal chegara ao nono mês e que faria um parto de cócoras assim que entrasse no banheiro do aeroporto. Virei para o meu amigo que me acompanhava e, sutil, falei: “Cara, mal posso esperar para chegar na merda do aeroporto porque preciso largar um barro”. Nesse momento, senti um urubu beliscando minha cueca, mas botei a força de vontade para trabalhar e segurei a onda. O ônibus nem tinha começado a andar quando, para meu desespero, uma voz disse pelo alto falante: “Senhoras e senhores, nossa viagem entre os dois aeroportos levará em torno de 1 hora, devido às obras na pista”. Aí o urubu ficou maluco querendo sair a qualquer custo. Fiz um esforço hercúleo para segurar o trem merda que estava para chegar na estação ânus a qualquer momento. Suava em bicas.</span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><a name='more'></a></span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Meu amigo percebeu e, como bom amigo que era, aproveitou para tirar um sarro. O alívio provisório veio em forma de bolhas estomacais, indicando que pelo menos por enquanto as coisas tinham se acomodado. Tentava me distrair vendo TV, mas só conseguia pensar em um banheiro, não com uma privada, mas com um vaso sanitário tão branco e tão limpo que alguém poderia botar seu almoço nele. E o papel higiênico então: branco e macio, com textura e perfume e, ops, senti um volume almofadado entre meu traseiro e o assento do ônibus e percebi, consternado, que havia cagado. Um cocô sólido e comprido daqueles que dão orgulho de pai ao seu autor. Daqueles que dá vontade de ligar pros amigos e parentes e convidá-los a apreciar na privada. Tão perfeita obra, dava pra expor em uma bienal. Mas sem dúvida, a situação tava tensa. Olhei para o meu amigo, procurando um pouco de solidariedade, e confessei sério: “Cara, caguei”.</span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Quando meu amigo parou de rir, uns cinco minutos depois, aconselhou-me a relaxar, pois agora estava tudo sob controle. “Que se dane, me limpo no aeroporto” – pensei. “Pior que isso não fico”. Mal o ônibus entrou em movimento, a cólica recomeçou forte. Arregalei os olhos, segurei-me na cadeira, mas não pude evitar e, sem muita cerimônia ou anunciação, veio a segunda leva de merda. Dessa vez, como uma pasta morna. Foi merda para tudo que é lado, borrando, esquentando e melando a bunda, cueca, barra da camisa, pernas, panturrilha, calças, meias e pés. E mais uma cólica anunciando mais merda, agora líquida, das que queimam o fiofó do freguês ao sair rumo à liberdade. E depois um peido tipo bufa, que eu nem tentei segurar, afinal de contas o que era um peidinho para quem já estava todo cagado. Já o peido seguinte, foi do tipo que pesa. E me caguei pela quarta vez.</span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Lembrei de um amigo que certa vez estava com tanta caganeira que resolveu botar modess na cueca, mas colocou as linhas adesivas viradas para cima e quando foi tirá-lo levou metade dos pêlos do rabo junto. Mas era tarde demais para tal artifício absorvente. Tinha menstruado tanta merda que nem uma bomba de cisterna poderia me ajudar a limpar a sujeirada. Finalmente cheguei ao aeroporto e, saindo apressado com passos curtinhos, supliquei ao meu amigo que apanhasse minha mala no bagageiro do ônibus e a levasse ao sanitário do aeroporto para que eu pudesse trocar de roupas. Corri ao banheiro e, entrando de boxe em boxe, constatei a falta de papel higiênico em todos os cinco.</span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Olhei para cima e blasfemei: “Agora chega, né?” Entrei no último, sem papel mesmo, e tirei a roupa toda para analisar minha situação (que conclui como sendo o fundo do poço) e esperar pela minha salvação, com roupas limpinhas e cheirosinhas e com ela uma lufada de dignidade no meu dia.</span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Meu amigo entrou no banheiro com pressa, tinha feito o “check-in” e ia correndo tentar segurar o vôo. Jogou por cima do boxe o cartão de embarque e uma maleta de mão e saiu antes de qualquer protesto de minha parte. Ele tinha despachado a mala com roupas. Na mala de mão só tinha um pulôver de gola “V”. A temperatura em Miami era de aproximadamente 35 graus.</span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Desesperado, comecei a analisar quais de minhas roupas seriam, de algum modo, aproveitáveis. Minha cueca joguei no lixo. A camisa era história. As calças estavam deploráveis e, assim como minhas meias, mudaram de cor tingidas pela merda. Meus sapatos estavam nota 3, numa escala de 1 a 10. Teria que improvisar. A invenção é mãe da necessidade, então transformei uma simples privada em uma magnífica máquina de lavar. Virei a calça do lado avesso, segurei-a pela barra, e mergulhei a parte atingida na água. Comecei a dar descarga até que o grosso da merda se desprendeu.</span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Estava pronto para embarcar. Saí do banheiro e atravessei o aeroporto em direção ao portão de embarque trajando sapatos sem meias, as calças do lado avesso e molhadas da cintura ao joelho (não exatamente limpas) e o pulôver gola “V”, sem camisa. Mas caminhava com a dignidade de um lorde.</span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Embarquei no avião, onde todos os passageiros estavam esperando “O RAPAZ QUE ESTAVA NO BANHEIRO” e atravessei todo o corredor até o meu assento, ao lado do meu amigo que sorria. A aeromoça se aproximou e perguntou se precisava de algo. Eu cheguei a pensar em pedir 120 toalhinhas perfumadas para disfarçar o cheiro de fossa transbordante e uma gilete para cortar os pulsos, mas decidi não pedir: “Nada, obrigado. Eu só queria esquecer este dia de merda!”</span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span class="Apple-style-span" style="-webkit-border-horizontal-spacing: 2px; -webkit-border-vertical-spacing: 2px;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"><br />
</span></b></span></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: arial, sans-serif; line-height: 19px;"><em style="font-style: normal;"><br />
</em></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: arial, sans-serif; line-height: 19px;"><em style="font-style: normal;"><span class="Apple-style-span" style="color: #222222; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 21px;">***<br />
<br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Quer ver sua crônica, conto, poesia, enfim, qualquer texto de sua autoria publicado por aqui? Mande seu texto para centraldecronicas@hotmail.com .<br />
Saiba mais clicando </span><a href="http://centraldecronicas.blogspot.com/p/mande-sua-cronica.html" style="color: #993300; text-decoration: none;" target="_blank" title="Mande sua crônica"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">aqui</span></a><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">.<br />
Até logo!</span></span></em></span>Julio Salleshttp://www.blogger.com/profile/08660509636218414858noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2974972089768216970.post-20995821655514673082010-10-27T13:52:00.010-02:002011-05-09T02:41:37.177-03:00A Viúva Inconsolável<div align="justify"><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"></div><div style="text-align: right;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS';"><b>de Nelson Rodrigues</b></span></div><div style="text-align: right;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS';"><b><br />
</b></span></div><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Ela fez questão que a missa de sétimo dia fosse a melhor possível. Andou perguntando:</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Pode ser dez coroinhas? Pode?</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Disseram:</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Até mais!</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">E ela, no seu desvario de viúva:</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">-Até mais? - de mãos postas, balbuciou: - Então, quero mais. Mais de dez, ouviu, papai? Mais de dez!</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O pai disse que sim, que estava bem. E vamos e venhamos: quem podia discutir, argumentar com uma mulher que acabava de perder seu marido? Nas costas da filha, porém, o velho conversou com os demais parentes. De lápis na mão, ia escrevendo: três padres, dez coroinhas, música, luminárias, etc., etc. Os outros faziam sinais de aprovação com a cabeça. Dr. Novais indaga:</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Basta, não basta?</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Admitiram:</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Para que mais? Já é muito!</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Na data marcada, houve a missa de sétimo dia, em intenção de Fernando Gomes Campelo, marido de Mora, filha do Dr. Novais. A própria Mora, por entre as lágrimas de viuvez, contou, um por um, os três padres, um por um, os dez coroinhas. Guardou, da cerimônia, uma lembrança de cantos, de círios e de anjos. E mais tarde, já de volta com o pai, este perguntou:</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Não foi um missão, minha filha? Uma big missa?</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><a name='more'></a></span></div><div align="center"><span style="font-size: 130%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></span><br />
<span style="font-size: 130%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">A dor</span></span></div><div align="center"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="font-size: 130%;"></span></span></div><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Estava casada com o Campelo há 15 anos. Quinze! E quando foi ver, no necrotério, o corpo do marido atropelado e morto na Presidente Vargas, fartava-se de repetir, na sua alucinação: "Duvido que tenha havido um marido melhor que o meu, duvido!" Até o momento de sair o enterro, não fez outra coisa senão contar passagens da sua vida matrimonial, inclusive algumas bem íntimas. Segundo ela, a vida do casal era uma lua-de-mel sem fim; tinham, 15 anos depois, arrebatamentos de uma primeira noite. Essas expansões, diante de um morto, causavam bastante mal-estar. Parentes de um lado e de outro ponderaram, em voz baixa. "Ninguém precisa saber!" Ela desprendeu-se, num repelão de louca: "Precisa, sim! Precisa!" Referiu que, ainda de manhã, ao sair pela última vez, Campelo a beijara na boca, como fazia sempre. Mora sublinhava: "E que beijo!" Houve um momento em que se dirigiu ao próprio cadáver:</span><br />
<div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Não é verdade, meu anjo? Não é verdade que vivemos um só para o outro? Não é verdade que tu nunca me traíste?</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Parecia esperar uma resposta, uma confirmação do morto, que estava com a cabeça enrolada em gazes ensangüentadas e com os olhos pavorosamente abertos. Tiveram que agarrá-la, arrastá-la aos apelos de:</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Não faça isso, D. Mora! Calma, calma!</span></div><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span><br />
<div align="center"><span style="font-size: 130%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Obsessão</span></span></div><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Enfim, passaram aqueles momentos terríveis. Veio, depois, a missa do sétimo dia, com a pompa que a viúva exigiu. Na volta da igreja, o Dr. Novais achou que devia ter uma conversa com a filha. Chamou-a para o gabinete e, lá, trancaram-se. Ele, em pé; ela, sentada, no seu luto severo e inconsolável. O velho pigarreia:</span><br />
<div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Bem filha - começou - até agora eu não disse, não falei nada, porque, enfim, acho certas manifestações normais, legítimas. Mas tudo tem um limite, meu anjo.</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Interrompeu, assoando-se:</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Que limite, meu pai?</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Dr. Novais atrapalhou-se:</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Minha filha, em primeiro lugar você tem que aceitar o fato consumado. O seu marido morreu e, infelizmente, não há nada a fazer. Afinal de contas, você não morreu para o mundo.</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Mora ergueu o rosto:</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Morri, meu pai. Estou morta, compreendeu? Morta!...</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Era demais. Dr. Novais impacientou-se:</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Ora, milha filha, ora! E seus filhos? Você se esquece que é mãe? Esquece que é, sobretudo, mãe? Esquece que tem dois filhos?</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Quis comovê-la com a evocação dos filhos, um menino e uma menina. Mora ergueu-se:</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Eu sempre coloquei meu marido acima do senhor, da mamãe, de tudo. Inclusive dos meus filhos. Não me mato, meu pai, porque as mortas não choram e eu preciso chorar meu marido. Só me interessa a memória do meu marido, só!</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Dr. Novais saiu, dali, apavorado.</span></div><div align="justify"></div><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span><br />
<div align="center"><span style="font-size: 130%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">A grande viúva</span></span></div><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Mora fez um apelo geral à família: "Tomem conta dos meus filhos." Anunciou que jamais tiraria o luto. E a partir de então desinteressou-se de tudo e de todos para viver em função de um túmulo. Queria ser a viúva eterna, irredutível. Nos primeiros vinte dias, Dr. Novais cultivava uma esperança: de que o tempo apaziguasse aquela dor obstinada e fanática. Esfregava as mãos piscando para os familiares:</span><br />
<div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- O tempo é um grande remédio. Vamos dar tempo ao tempo.</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Depois começou a verificar que os dias, as semanas, os meses se escoavam, em vão. Nada mudava nos modos, sentimentos e idéias de Mora. Espalhara retratos do finado por toda a casa, da cozinha ao banheiro. Não se abria uma gaveta que não se descobrisse, lá, uma ou mais fotografias de Campelo. Numa irritação meio jocosa, Dr. Novais abria os braços: "Não sei como não há retrato, também, no galinheiro." E, um dia, foi pior: surpreendeu a filha conversando com os sapatos do Campelo. Com um máximo de tato, o velho quis chamá-la à ordem:</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Mas o que é isso, minha filha? Você não vê que é uma loucura?</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Mora reagiu:</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Não se meta, papai! Eu sei o que estou fazendo! E não tenho nenhum medo da loucura!</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Dr. Novais não disse nada. Mas viu que aquilo, mais que uma extravagância, era um sintoma. Foi soprar para a mulher: "Está doente! Isso é doença, no duro!" Andando de um lado para outro, esbravejava:</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- As outras viúvas sofrem 48 horas e olhe lá! Será que esse negócio de amor eterno existe mesmo? É batata?</span></div><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span><br />
<div align="center"><span style="font-size: 130%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O cemitério</span></span></div><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O marido estava enterrado há quatro meses. Pois bem. Jamais a viúva falhara um dia, que fosse, na sua fidelidade ao túmulo do bem-amado. Comparecia ela, no seu luto fechado. Chorava as mesmas lágrimas, rezava as mesmas orações e conversava hoars com a sepultura. E era óbvio que um túmulo era seu grande ou, por outra, seu único interesse vital. Não tomava conhecimento dos filhos, nem de ninguém. Com a família, as amigas, limitava-se a falar do esposo e a rememorar os seus momentos de amor. Uma das amigas arriscou a pergunta: "Será que ele merecia tanto?" Mora respondeu, com uma certeza fanática:</span><br />
<div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Ele merecia. Fernando merecia. Nunca me traiu! E te digo mais; eu acho que sou a única mulher que não foi jamais traída!</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Então, a outra, depois de vencer um escrúpulo, aventura, novamente: "Esse negócio de fidelidade é muito relativo!" Mora virou-se,chocada: "Por quê?" E a outra, vaga: "Nunca se sabe!" Mora levantou-se, insultada:</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Nunca se sabe, uma ova! Eu sei! Ponho a minha mão no fogo! Ou tu achas que eu ia chorar essas lágrimas todas por um sujeito que me tivesse traído? Não, senhora! Em absoluto!</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Pouco a pouco, a família foi-se deixando tocar pela força daquele amor. Houve quem dissesse: "Ser fiel a um marido vivo não é vantagem. Bonito é a fidelidade ao que morreu". Por último, Dr. Novais parecia envaidecido do comportamento de Mora. Dizia a um e outro:</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Isso não é doença, não. É amor no duro. Amor eterno.</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Parecia-lhe uma honra, para a família, que a filha fosse uma viúva singular, inconfundível, não parecida com nenhuma outra. A propósito, contava o caso de um primo longínquo. E dizia, com grandes gestos, mordendo o charuto apagado: "Meu primo morreu de barriga d'água. Pois bem. Enquanto ele agonizava, a mulher dava em cima do médico!" Concluía: "Viúva como a minha filha, nunca vi, sob minha palavra de honra!" Até que chegou o dia do primeiro aniversário de morte de Fernando Gomes Campelo. Mora acorou cedíssimo. Ainda brilhava, no céu, a última estrela da noite. Carregada de flores, foi a primeira a entrar no cemitério. E, apesar de tudo, apesar de suas lágrimas, de saudade infinita, ela teve o prazer de verificar que seu sentimento não arrefecera. Pelo contrário. Mesmo na lua-de-mel, não amara tanto o marido, com um exclusivismo tão fanático. Ao mesmo tempo que espalhava as flores, ela conversava com o túmulo:</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Tu sabes como eu fui fiel quando vivias. E, depois que morreste, eu não te traí nem em pensamento - repetia: - Nem em pensamento, Fernando!...</span></div><div align="justify"></div><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span><br />
<div align="center"><span style="font-size: 130%;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Surpresa</span></span></div><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Duas horas depois, saiu do cemitério, num dilaceramento total. Na rua, porém, experimenta uma violenta nostalgia do túmulo, que era sua razão de viver. Estava no poste do ônibus e voltou chorando lágrimas. Mas quando se aproximava do mausoléu, viu alguém, de joelhos, junto à sepultura de Fernando. Moderou o passo. Era uma mulher. Perguntou, de si para si: "Está ali por quê? Fazendo o quê?" E não entendia que a outra mulher viesse enfeitar o túmulo de Fernando. Durante dois ou três minutos, e já bem próxima, contemplou a cena. A outra era uma desconhecida e ainda moça, ainda bonita. No seu luto aliviado, enterrou a última flor. E então, cai de joelhos, explodindo em soluços. Mora inclina-se, põe a mão no seu ombro: "Minha senhora..." A estranha virou-se, atônita. Mora pergunta, contida: "Era seu parente?" A mulher tem um desespero maior:</span><br />
<div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">- Era meu amor! Foi todo o meu amor!</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Em pé, o coração disparado, Mora pensa na sua fidelidade de todos os minutos. Olha em torno; próximo estão fazendo um mausoléu. Um dos operários é um indivíduo forte e bronzeado, de braços nus e potentes. Fora de si, ela corre: tropeça aqui e ali, levanta-se e continua correndo. Está finalmente, diante do caboclo espantado. Na ponta dos pés, abraça-se a ele e, como louca, dá-lhe um tremendo beijo na boca. Depois, vingada e feliz, foge, sem olhar para trás.</span></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Nunca mais voltou ao cemitério.</span></div><div align="justify"></div><div align="justify"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span><br />
<br />
<span class="Apple-style-span" style="color: #222222; font-size: 15px; line-height: 21px;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">***</span></b></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="color: #222222; font-size: 15px; line-height: 21px;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span> </b><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Quer ver sua crônica, conto, poesia, enfim, qualquer texto de sua autoria publicado por aqui? Mande seu texto para centraldecronicas@hotmail.com .<br />
Saiba mais clicando </span><a href="http://centraldecronicas.blogspot.com/p/mande-sua-cronica.html" style="color: #993300; text-decoration: none;" target="_blank" title="Mande sua crônica"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">aqui</span></a><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">.<br />
Até logo!</span></span></div>Julio Salleshttp://www.blogger.com/profile/08660509636218414858noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2974972089768216970.post-8808014090943966382010-08-02T16:24:00.005-03:002011-05-09T02:43:25.986-03:00Nain<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: right;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>de Júnior Pires</b></span></div><div style="margin-bottom: 0px; margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; text-align: right;"><a href="http://www.falosempre.blogspot.com/" target="_blank"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">http://www.falosempre.blogspot.com</span></a></div><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/_-iKM07c_Xz0/TFcbrSObH0I/AAAAAAAAAG4/zmbeVGsDjq4/s1600/mapa_meridianos%5B1%5D.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="http://2.bp.blogspot.com/_-iKM07c_Xz0/TFcbrSObH0I/AAAAAAAAAG4/zmbeVGsDjq4/s400/mapa_meridianos%5B1%5D.jpg" width="400" /></a></span></div><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> A porta é aberta bruscamente e a voz de Nain é escutada em toda a casa:</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> - Pai! Os meridianos!</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Nain é um garoto de nove anos e facilmente impressionável. Acabara de ter uma aula de geografia e nela, descobriu a existência dos meridianos.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> - Calma filho, fale mais devagar. Que história é essa de meridianos?- falou Júlio, pai de Nain.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> - Pai, a professora disse que existem várias linhas imaginárias em volta da terra. </span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> - Exatamente. Os meridianos, junto com os paralelos…</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> - O quê?! Que história é essa de paralelos?! Ainda tem mais?!</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> - A professora não falou dos paralelos?</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> - Não sei. Quando ela falou desses tais meridianos, saí da sala e vim direto para casa.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> - Mas filho…</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Nesse momento o garoto anda pela casa como que procurando algo. Percorre os olhos por todo o local, vasculhando cada canto.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> - O que foi Nain?</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> - Será que uma dessas linhas passa por nossa casa? Pelo meu quarto?!</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> - São apenas linhas imaginárias…</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> - Não sei. Podem estar escondendo algo de mim… Por favor pai, pode dizer a verdade, eu aguento.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><a name='more'></a> - Acho melhor você ir descansar no seu quarto. Depois continuaremos essa conversa.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Nain não concordou muito, mas acabou indo para o seu quarto. Saiu andando bem devagar e olhando atentamente para todos os lados enquanto subia a escada. Tinha-se a impressão que tentava não esbarrar em algo.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> - Querido, estou preocupado com esse garoto.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Laura, mãe de Nain, havia escutado toda a conversa, da cozinha. Mas deixou que os dois conversassem a sós. Agora chegava à sala.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> - Não se preocupe, querida. Devem ser essas comidas industrializadas que as crianças comem, que as deixam tão agitadas. Depois que ele descançar, irá esquecer essa história de meridianos.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Nesse instante, escutam-se passos rápidos descendo a escada. Era Nain, que agora chegava à sala com seu livro de geografia na mão.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> - Pai, mãe, vejam, vejam!</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> O menino mostra aos pais o livro. Na página via-se um desenho do mapa mundi.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> - Estão vendo?! São muitas dessas linhas pelo planeta! Se de repente acharem que são linhas demais e quiserem destruir algumas e essas estiverem passando pela nossa casa!? Podemos ser destruídos por mísseis ou algo parecido!</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> - Faça o seguinte, filho: Vá para o seu quarto e leia o capítulo em que fala sobre essas linhas imaginárias. Depois volte e me diga sua opnião. – falou Júlio.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Depois de meia hora lendo o livro de geografia, Nain volta à sala.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> - E aí, o que achou?</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> - É… Acho que exagerei um pouco . Os meridianos e paralelos são só linhas imaginárias, que servem de orientação.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> - Está vendo como é bom conhecer algo, antes de tirar conclusões precipitadas?</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> O garoto estava agora bem mais calmo. Entretanto, parece que esse conselho não iria servir por muito tempo.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Outro dia, Nain entra em casa correndo, aponta o dedo pro pai e grita:</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> - Pai, saia agora desse sofá!</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Júlio, assustado, dá um pulo do sofá.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> - O que foi, agora, Nain?</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> - Ele está coberto por bactérias! Na verdade, tudo está coberto por bactérias!</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> - Deixa eu adivinhar… Hoje você teve aula de ciências.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><span class="Apple-style-span" style="font-weight: normal;"><br />
</span></b></span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">***</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Quer ver sua crônica, conto, poesia, enfim, qualquer texto de sua autoria publicado por aqui? Mande seu texto para centraldecronicas@hotmail.com .</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Saiba mais clicando </span><a href="http://centraldecronicas.blogspot.com/p/mande-sua-cronica.html" target="_blank" title="Mande sua crônica"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">aqui</span></a><span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">.</span><br />
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Até logo! <img alt=":)" class="wp-smiley" src="http://s.wordpress.com/wp-includes/images/smilies/icon_smile.gif" /></span>Julio Salleshttp://www.blogger.com/profile/08660509636218414858noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2974972089768216970.post-30543546465492538512010-08-01T03:17:00.000-03:002010-08-02T16:13:49.281-03:00O objetivo<div class="entry-content"><div class="snap_preview"> Olá!<br />
Há tempos estava com vontade de fazer esse projeto, e enfim ele se concretizou em forma de blog.<br />
O objetivo é simples: Reunir boas crônicas, tanto de autores consagrados quanto de escritores ainda no anonimato.<br />
A ideia é criar uma página na qual qualquer pessoa que escreva, seja por prazer ou por vício, possa enviar sua crônica para compartilhar e divulgar suas criações com todos.<br />
Quem quiser participar pode mandar qualquer crônica para o e-mail centraldecronicas@hotmail.com<br />
Todas as crônicas publicadas terão os créditos dados aos devidos autores. Para tal, basta que o escritor envie, junto ao texto, o nome ou apelido com que quer que seja chamado. O autor também pode enviar os endereços de quaisquer páginas pessoais que desejar (blogs, twitter, orkut, facebook, flogs, etc) que estas também serão divulgadas junto à crônica.<br />
Futuramente também pretendo contar com mais colaboradores para a seleção das crônicas.<br />
Pra terminar: O objetivo do blog é fazer uma grande reunião de trabalhos autorais, trocar ideias sobre os textos e compartilhar as crônicas com outros escritores.<br />
<div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">Expresse-se também. </div><div style="text-align: center;"><img alt=":D" class="wp-smiley" src="http://s.wordpress.com/wp-includes/images/smilies/icon_biggrin.gif" /> </div></div></div>Unknownnoreply@blogger.com0